Em maio destacamos uma das nossas veteranas: Emília Tavares, como personalidade do mês! Muitos parabéns!
A Emília iniciou-se numa área mais rápida desta modalidade! E agora, já corre Maratonas! E sempre acompanhada com todos os ingredientes necessários para a concretizar! Não basta só correr, é preciso muito mais que isso! Tudo tem um planeamento e preparação por trás.
Fotografia: Run Tejo
A Emília conta-nos a sua jornada nesta modalidade até aos dias de hoje! Vem conhecê-la melhor:
1) Quem é a Emília Tavares?
É uma pessoa de 60 anos, de Vilar Formoso na província junto a Espanha.
Nasci numa família, a qual nos primeiros tempos, eramos mesmo muito pobres. Quando eu tinha 10 anos, antes do 25 de abril, na fronteira tínhamos a PIDE e também havia o contrabando. Eu fiz contrabando, mas eram coisas essenciais à vida, como roupa, comida. Era a necessidade, e não algo que quiséssemos fazer.
Apesar de tudo, acho que tive uma infância muito feliz. Os meus pais foram espetaculares. O meu pai, sempre me motivou e sempre me incutiu uma grande autoestima e uma grande confiança em mim. Aos 15 anos, tive de sair de casa em Vilar Formoso e ir morar sozinha para poder continuar os meus estudos porque queria ser engenheira.
Sempre tive o apoio e o incentivo dos meus pais. E toda aquela garra, eu lembro-me que na altura o meu pai dizia uma frase “se os outros conseguem, nós também conseguimos”! E, portanto, era com esse espírito que eu abraçava tudo.
Se o meu pai me dizia para me “mandar de cabeça” era depois a minha mãe estava ali para me limpar as feridas quando as coisas não corriam tão bem. A minha mãe era um espírito de bondade sem limites, era uma pessoa extraordinária que ajudava todos. Eles também me incutiram, valores: o respeito pelos outros, ajudar os outros e sinto um enorme orgulho as pessoas reconhecem essas características, daquilo que os meus pais me transmitiram. E pauta sempre a minha vida.
O desporto foi uma atividade que sempre desde pequenina. Na escola, andava no andebol, no desporto escolar cheguei a ir aos nacionais pelo distrito de Guarda. Quando estava a estudar na Guarda, havia um treinador que me viu jogar andebol, e me perguntou se não queria ir para o atletismo. Aí se iniciou o atletismo aos 15 anos. Acho que inda tenho o recorde no comprimento, no distrito da Guarda.
Depois, vim para Lisboa e fui “bater à porta” do Sporting. Pois era o clube de excelência do atletismo na altura. Mandaram-me ir fazer provas. Fiquei um ano à espera, pois na altura em que fui, já se tinham realizado as provas. Nessa altura já tinha quase 20 anos, e então fui fazer as provas a ver se ficava no Sporting. Fiquei e fui treinada pelo professor Abreu Matos. Fiz aí o meu percurso desportivo e ao mesmo tempo também tirei o meu curso de engenharia no técnico. E é esse o meu percurso.
Casei, tive dois filhos e cá estamos.
2) Há quantos anos treinas, e como é que o atletismo apareceu na tua vida?
Tive uma paragem aos 26 anos, quando tentei fazer os mínimos para os jogos olímpicos de Barcelona. Eu tinha 13,83, e eu precisava de fazer 13,64 para conseguir ir aos jogos olímpicos. Comecei a treinar que nem uma maluca, treinava duas vezes por dia. Depois, lesionei-me, tentei recuperar, mas lesionei-me de novo. Fiquei extremamente chateada e parei o atletismo durante 2 anos.
Aos 28 anos, recomecei, mais aí já só treinava uma vez por dia. Mas o engraçado, é que aí, fazia os mesmos tempos de quando treinava duas vezes por dia.
Aos 30 anos diagnosticaram-me uma hérnia discal e como não podia treinar atletismo, dediquei-me à família tendo dois filhos que preencheram e preenchem a minha vida. Entre os 30 anos e os 40 e poucos, tive praticamente parada. Fazia uma volta ou outra de bicicleta com os amigos, mas não corria.
A hérnia estabilizou, comecei novamente a correr. Os filhos já eram autónomos, e não precisava de servir de chofer para qualquer lado. E aí comecei a ter mais tempo e disponibilidade. Como não tinha já tantas dores nas costas, continuei.
3) O que simboliza para ti pertencer à equipa Run Tejo-Prevent Sprain?
É muito gratificante pertencer à Run Tejo. Primeiro porque, acho que funciona muito bem. Desde o financeiro, quem faz as publicações das provas, as inscrições, logística das provas, etc. Um especial carinho para o treinador, que eu acho que tem tido um papel fundamental neste meu desempenho.
Acho que tem a estrutura e as pessoas que estão por trás, fazem um trabalho espetacular e sinto-me mesmo muito bem no clube e apoiada. Sinto que, quando é preciso de alguma coisa, basta falar e as coisas acontecem. É um clube que funciona muito bem. No fundo o clube são as pessoas que lá estão. O grupo de trabalho, nomeadamente o do Carlos que naturalmente conheço melhor, é muito bom. O apoio, incentivo e ajuda entre todos é louvável.
4) Qual foi o teu maior feito desde que estás no clube?
Acho que este ano, no torneio de Oeiras, ter ficado em primeiro lugar. Já participo neste torneio desde 2016. Há 8 anos que o faço. E a primeira vez que fiquei em primeiro lugar, acho que é o culminar da época.
5) O que representa para ti esta distinção de personalidade do mês?
Fico muito contente. Sinceramente, não estava à espera. É muito gratificante. Eu faço, participo e estou disponível. Quando são provas fora de Lisboa, a logística nem sempre é fácil para sair de Lisboa, com a família. Agradeço a distinção e fico feliz por estar a contribuir para o clube. Feliz em saber que ajudo os outros, neste caso em o clube não só pelos resultados, mas também como motivação para outros colegas.
6) Quais são os teus atletas de referência?
Um atleta que eu admiro é o Carl Lewis, não pelas 4 medalhas ganhas nos jogos olímpicos, mas pela longevidade. Ele durante muitos anos foi o número um. Até podia tomar algumas coisas, mas não foi muito porque, porque ninguém consegue aquela longevidade a fazer batota.
Por exemplo, uma pessoa vê a Florence Griffith a fazer 10,49 aos 100 metros, naquela altura era mais rápida que muitos homens cá em Portugal, mas passado 2 anos, morreu de ataque cardíaco. Mas o Carl Lewis esteve durante muitos anos no topo. É um dos atletas que tenho como referência.
7) Qual o conselho que dás a todos os atletas que andam por aí a correr, sem qualquer orientação e grupo de treino?
Arranjem um treinador e um plano rapidamente. seja no atletismo, na vida profissional ou pessoal, se não tivermos um plano, não vamos a lado nenhum. Um objetivo sem um plano é só um desejo.
8) Como concilias os treinos e corridas com a tua vida profissional e pessoal?
Com muito jeitinho. Como disse anteriormente, agora tenho a vida bastante mais facilitada. A minha filha mais velha tem 26 anos e o mais novo 23. Já têm carta de condução. Só cozinho quando me apetece. Fiz o melhor investimento da minha vida em ensinar o meu filho a cozinhar. Eles safam-se.
Em termos profissionais, trabalho remotamente, tenho o horário livre. No inverno por exemplo, posso ir correr as 15 horas que ainda é de dia e depois trabalho até às horas que for necessário, em vez de correr ao frio. Neste momento tenho um trabalho “porreiro” e que é muito flexível. E tenho os filhos praticamente criados. Neste momento não é difícil.
9) Qual a tua distância preferida, e porquê?
Antes eram os 100 metros de barreiras, claro! Agora, gosto de correr os 10 quilómetros em estrada e também gosto de correr os 3 quilómetros em pista. Antes de ir para a Run Tejo, havia o Challenge 3000 e eu gostava muito.
A maratona é a superação. É um desafio incrível. Cada uma é uma emoção.
10) Qual a tua prova preferida, e porquê?
Eu gosto muito da Marginal à Noite, em Oeiras. É muito gira, porque é a noite, está bom tempo, tem fogo de artifício, música e muita animação. Já fiz várias vezes a prova, e gosto muito. É uma festa, é muito giro. Tenho feito praticamente todas as edições.
11) Tens alguns cuidados com a alimentação?
Sim. Não sou vegetariana, mas como sempre vegetais e tento fazer uma alimentação equilibrada, em termos de fruta, hidratos e proteínas. Tenho sempre o cuidado de ter uma alimentação saudável e equilibrada. Não comer demasiado.
12) Qual a tua maior motivação para continuares a correr?
Eu corro porque gosto. Para mim, as provas, os resultados são uma consequência do treino e daquilo que eu gosto de fazer.
Eu não treino para conseguir a medalha, eu consigo a medalha porque treino. É mais ao contrário. A motivação não é para correr, ou atingir determinada marca.
O fazer uma maratona por ano, ajuda a eu ter um objetivo. Durante a fase da preparação, tento beber mais água e ter mais cuidado com a alimentação, dando-me um boost na minha forma física.
Para mim, depois do trabalho, ir correr para o paredão, para esquecer os stresses do dia-a-dia, é uma terapia.
13) Queres deixar algum agradecimento público?
Queria deixar um agradecimento a toda à parte da direção do clube, das pessoas que fazem parte do trabalho todo, os órgãos sociais, que trabalha em prol do clube. Fazem com que tudo corra bem e é gratificante. Os meus parabéns a todo o pessoal que trabalha nesta associação.
Um agradecimento especial ao meu treinador, porque acho que não teria este prémio sem o seu contributo.
Fotografias: Run Tejo e Armindo Santos (Página de Facebook)
AGRADECIMENTO AOS PATROCINADORES:
Prevent Sprain Socks
Prevent Sprain - CM Socks
Aronick Equipamentos Desportivos
GoldNutrition
Iriax Construções, Lda
União das Freguesias de Oeiras
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